Em 2004 resolvi voltar a tocar alguma coisa, só não sabia o que. Tinha que ser alguma coisa diferente do que já havia feito. Certa noite estava no bar Estrela, na Cardoso de Almeida, bebendo umas cervejas e brincando com um violão, quando chegou o Paulinho, um vizinho violonista que eu conhecia apenas de vista. O Toninho, grande amigo e dono do bar, nos apresentou e sugeriu que tocássemos alguma coisa. Comecei a solar alguns choros e alguns sambas, acompanhado pelo Paulinho. Tocamos e improvisamos muito bem, a turma que estava no bar ficou impressionada. Gostei tanto desta experiência, que resolvi dar continuidade. Compraria um novo instrumento e passaria a tocar melodias junto com o Paulinho. Depois de cogitar a possibilidade de comprar um saxofone ou uma flauta transversal ou uma gaita cromática, veio finalmente a grande idéia: um bandolim. Seria o instrumento perfeito, pois eu já tinha bastante experiência com a família das cordas, sabia palhetar, sua afinação em quintas me era familiar por causa do estudo do violoncelo, sua semelhança com o violino seria também um aspecto facilitador, pois eu possuía um bom conhecimento teórico sobre este instrumento. Estava decidido, mas antes de comprar precisaria testar algum, pra ter certeza de que me adaptaria. O Toninho conseguiu emprestar um bandolim dum amigo taxista. Levei pra casa e comecei a estudar. Em uma semana já tocava o choro Lamento, em duas, Noites Cariocas, na terceira, devolvi um e comprei outro, um Giannini, parcelado em quatro vezes. Imprimi algumas partituras, entreguei para o Paulinho e começamos a nos reunir em sua casa para ensaiar. O Toninho, entusiasmado com a idéia, sugeriu que ensaiássemos no bar, para que ele pudesse participar também, mas participar como? Já tínhamos a melodia, a harmonia... faltava o ritmo. Foi quando o Paulinho presentou o Toninho com um ganzá feito de lata de cerveja e arroz. Tava completa a roda. Toda semana fazíamos um som e a cada semana o repertório aumentava - Flor Amorosa, Delicado, Brasileirinho, Carinhoso... O público aumentava também, além dos fregueses do bar, os estudantes da Puc vinham em peso, já não dava mais pra tocar acústico. Foi então que o Toninho comprou um equipamento e passamos a tocar amplificados. Nesta época também, o Toninho abandonou o ganzá e passou a tocar pandeiro. Depois de algum tempo, se juntaram a nós o Francisco, cavaquinista que conheci pelo orkut e o Grilo, ritmista que usava uma timba pra fazer o surdo. A festa era fantástica, fazíamos choro das 19 às 23 e depois partíamos pro samba até as 4 da manhã.
Depois de mais ou menos um ano de roda, as coisas começaram a mudar. O Paulinho teve que parar de tocar e então o Francisco assumiu o violão. Certa noite, em que não havia música, apareceu no bar, com o violão nas costas, um cara chamado Igor. O Toninho fez amizade com ele e o convidou pra ver o choro. Ele veio, tocou, gostou e ficou. Não só ficou, como também trouxe mais músicos. Primeiro veio o Felipe, cavaquinista, depois o Paulo, setecordista. Vieram, tocaram, gostaram e ficaram. Tudo ia bem até que a vizinhança, depois de tanto reclamar, chamou o PSIU. Acabou a brincadeira, acabou o choro do Estrela. Lágrimas a parte, tínhamos que continuar em outro lugar, mas nem todos poderiam nos acompanhar. Francisco, Grilo e Toninho ficaram pelo caminho. Igor, Paulo, Felipe e eu seguimos. Precisávamos de um novo pandeirista, foi quando o Bisdré, um violonista que também havia conhecido pelo orkut, me disse que também tocava pandeiro e estava disposto a tocar com a gente. Nascia o Chorando Callado. De lá pra cá, nunca deixamos de tocar. Tocamos no Clube Caiubi, no Rio Botequins, no Vila Teodoro, numa formatura da turma de psicologia da Puc, no Bambu Brasil, no Canto Madalena, numa feira de artesanato da Paulista, no Bosque dos Jequitibás em Campinas, no Magnólia, no Bar do Magrão, no Club da Cana, no Dascânio, entre outros. Às vezes tocamos todos juntos, às vezes com a formação ligeiramente modificada, mas sempre tocamos.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Caindo no choro
sábado, 24 de novembro de 2007
Trajetória
Tudo começou aos 18 anos, em Ourinhos (SP), quando comprei um violão, dividi em 3 vezes e minha mãe, de surpresa, me deu uma capa. Virou fixação: passava horas decorando novos acordes, descobrindo escalas, compreendendo dissonâncias, aprendendo a afinar... Quanto mais estudava, mais descobria que havia mais coisas a se estudar. Conclusão: estudar música não acaba nunca.
Não tinha professores, mas bons amigos que davam boas dicas.
Depois disso comprei uma guitarra, uma pedaleira, um amplificador e aprendi a palhetar.
Tinha que aprender a ler partitura! Mais horas e horas decodificando bolinhas e tracinhos.
Em 95, uma boa novidade: A Escola Municipal de Música de Ourinhos. Pela primeira vez teria professores. Mergulhei de cabeça: estudei violoncelo, violão popular, violão clássico, teoria musical e harmonia. Tocava o tempo todo, acompanhava flautistas, clarinetistas, violinistas, tocava em quartetos, trios, cameratas e ainda, no meu tempo livre, estudava contraponto e serialismo.
Em 97 virei professor do Conservatório Musical Santa Cecília. Tinha carteira assinada, cesta básica, fundo de garantia e décimo terceiro.
Em 99 resolvi me mudar para São Paulo e em 2000 fiz aulas de violoncelo na USP. Fim do primeiro ato. Viver de música era mais difícil do que imaginava. Parei com tudo e virei programador.
Em 2004 resolvi voltar a tocar alguma coisa. Comprei um bandolim e virei chorão. Não poderia ter tido idéia melhor!